quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Álcool: a maior das drogas II

Sábado fui parada pela polícia militar para fazer o teste do bafômetro (aliás, quem criou esse nome tem muito mau gosto). Minha irmã, que estava comigo, riu da minha cara (claro!), mas em seguida fez um comentário muito sério e pertinente, do qual tomo a liberdade de me apropriar e lanço aqui: de que adianta o governo realizar ações para inibir se a indústria simultaneamente incentiva e estimula - com muito mais intensidade, força e peso?

Além disso, profissionais de saúde estão constatando que o número de mulheres dependentes tem aumentado significativamente, o que de certa forma mostra que não foi nada absurda a abordagem da polícia - a não ser pelo fato de terem errado feio o alvo!

Mas, falando sério, a situação me fez pensar mais no assunto (que já entrou no meu post anterior) e ter vontade de partilhar os meus conhecimentos sobre o tema, já que pesquisei bastante para escrever o livro sobre drogas e vejo o tempo todo que as pessoas têm muito pouca informação do que de fato o álcool pode fazer na vida de alguém.

Assim, aqui vão algumas infos importantíssimas para repassar ao máximo número de amigos e familiares:

1. O alcoolismo, ou dependência química de álcool, pode ser causado de acordo com a genética, as doses, a frequência e as circunstâncias em que a pessoa bebe.

2. São considerados bebedores moderados aqueles que bebem no máximo 2 drinques por dia (2 latas de cerveja ou 3 copos de chope ou 2 taças de vinho ou 72 ml (menos de 2 doses) de destilados). Porém, a concentração de álcool nas cervejas varia bastante, e é necessário levar isso em consideração, especialmente as com malte. Isso significa que encher a cara "só no fim de semana" é suficiente para aumentar grandemente os riscos da dependência, considerando que o limite máximo semanal para um homem adulto seria de 8 latas de cerveja ou 12 copos de chope ou 8 taças de vinho ou cerca de 7 doses de destilados.

3. Mesmo quem bebe moderadamente não está livre de riscos.

4. Bebendo a mesma quantidade dos homens, nas mulheres o efeito é maior, por causa de sua constituição física e de diferenças na estrutura neurológica.

5. Filhos de dependentes de álcool têm 4x mais chances de se tornar dependentes também.

6. O alcoolismo atinge 10% das pessoas adultas no Brasil.

4. Menos de 2% dos casos tratados em clínicas especializadas não têm recaídas.

No próximo post vou aprofundar o assunto em relação aos males causados pela bebida e as causas da dependência.

Saúde! (Mais ainda se for sem brinde!)

Fontes de consulta:
SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas
CEBRID - Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Álcool: a maior das drogas

Estou para lançar um livro sobre drogas, de modo que já vinha planejando escrever sobre o tema aqui. Porém, ao ler o artigo que Ruy Castro escreveu para a Folha, senti que ele disse muito do que eu gostaria de falar. Assim, decidi reproduzir o texto aqui, dedicando a ele o espaço esta semana, também com um intuito de utilidade pública. Para quem quiser mais informações, indico alguns sites com brilhantes e importantíssimas entrevistas da Marília Gabriela sobre drogas, violência e álcool, ao final. Beijos a todos e muito juízo nas baladas, nos barzinhos, em casa, nas festas...!

RUY CASTRO

Os garotos do Brasil

RIO DE JANEIRO - Sócrates, 57, volta para casa depois de 17 dias entre a vida e a morte no hospital por complicações decorrentes de cirrose do fígado. A partir de agora, não poderá mais beber álcool. 
Mas isso não fará dele um ex-alcoólatra. Assim como o diabético que deixa de comer açúcar não se torna ex-diabético -torna-se apenas um diabético que deixou de comer açúcar-, Sócrates continuará sendo alcoólatra. Apenas terá deixado de beber.


Para a indústria cervejeira, sua doença é um desastre. Demonstra que ninguém, nem mesmo um homem inteligente, cidadão admirado e, ainda por cima, médico, como Sócrates, está a salvo de seu produto. Que este produto não é diferente dos "mais fortes", como os destilados, e que, apesar disso, entra alegremente pelas casas via televisão, patrocinando inclusive a seleção brasileira. Pois não é irônico que Sócrates, que já foi um dos símbolos desta como atleta nos anos 80, quase tenha morrido do produto que patrocina hoje a seleção?


Trinta anos de consumo firme e crescente de cerveja renderam-lhe a cirrose cujos sintomas ele, como médico, deve ter percebido há muito. Sócrates percebeu, mas continuou a beber. Por quê? Porque o alcoolismo é progressivo e, depois de certa etapa, quem manda não é a razão, mas o organismo, e este quer sempre mais. Sócrates pertence aos 15% da humanidade que podem beber muito sem sentir os efeitos adversos do álcool, como embriaguez, intoxicação e ressaca. Só isso explica que, com seu histórico de copo, nunca tenha sido advertido pelos médicos de seus clubes -que também não entendem de alcoolismo. 


Sócrates disse que, se saísse dessa, iria fazer trabalho social junto às crianças da Venezuela. Faria melhor se ficasse aqui e contasse sua história para os garotos do Brasil.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O exemplo do Rei - Doenças modernas

Eu gosto de Roberto Carlos por influência do meu pai.
Como a maioria das pessoas da minha geração que o admira. Ele tanto era bom tanto no estilo rapaz descolado da Jovem Guarda como o é como homem maduro e sensível. Várias de suas músicas são realmente lindas, e por alguma razão estranha muitas vezes me pego com lágrimas nos olhos ouvindo ele cantar ou escutando algo que ele diz.
Mas este artigo pretende abordar outro aspecto do Rei: em entrevista para o Jô Soares na semana passada, ele abordou (que eu saiba, pela primeira vez) o assunto de suas "manias" como sendo TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). E o fez com uma delicadeza incrível.

A meu ver, o que esse fato teve de especial foi mostrar claramente a mudança de mentalidade das pessoas em decorrência dos avanços científicos da psiquiatria nos últimos 60 anos. Quando Roberto ficou famoso, os rumores sobre as "manias" dele foram tomando espaço como lendas curiosas e ligeiramente engraçadas, mas hoje em dia ele teve acesso à informação, por intermédio do filho, de que o que ele tinha não era superstição, e sim o que se poderia classificar como uma doença, na qual a pessoa tem algumas atitudes aparentemente ilógicas e repetitivas (para resumir ao máximo), como entrar pela mesma porta que saiu, fazer tudo duas vezes, etc.

Eu comentei no artigo anterior que já tive algumas crises de síndrome do pânico. Também já tive depressão. Conheço pessoas, família e amigos, que já tiveram ou têm esses e outros problemas (ou o que se chama de "doenças modernas"). A grande questão é que, antigamente, a pressão para a pessoa ser "perfeita" era imensa, e as falhas deviam ser ocultadas e disfarçadas. Hoje, ainda resta muuuuito desse comportamento, mas aos poucos as pessoas estão percebendo que é muito mais saudável, leve e natural não fazer desses problemas um problema, e sim encarar com tranquilidade, e sem deixar de buscar ajuda, se for o caso.

Ser diferente não é mais ruim. E quando percebemos que somos diferentes, descobrimos que há muitos outros diferentes como nós!

O ritmo de vida que levamos é intenso demais, tanto para adultos como para crianças, de modo que estamos começando, sim, a sofrer algumas consequências da velocidade da Era Tecnológica. Eu tenho uma teoria de que estamos "espremendo" o cérebro de forma desequilibrada neste século XXI, considerando que, antes dos anos 1990, realizávamos tudo manualmente, e, após a chegada dos PCs, passamos a produzir, no mesmo período de tempo (ou em maior), absurdamente muito mais, num ritmo nunca atingido na história da humanidade, provocando no nosso cérebro uma sobrecarga cujas consequências ainda conheceremos nos próximos 50 anos.

Algumas das mais evidentes são essas doenças modernas - TOC, síndrome do pânico, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), depressão, bipolaridade, ansiedade (patológica), até mesmo abuso de álcool e outras drogas, etc. -, que, em muitos casos, são provocadas ou acentuadas pelo desgaste emocional, que inibe a produção de serotonina (a substância neurotransmissora responsável pelo bem-estar), de modo que é necessária a prescrição de um medicamento que estimule o corpo por um tempo a voltar a produzi-la (caso dos antidepressivos e dos ansiolíticos). Estabilizadores de humor também são importantes para as pessoas que, pressionadas, sentem-se mais agressivas e irritadiças.

Por isso, meu conselho é: busque qualidade de vida; valorize as coisas simples; dedique-se às pessoas que são importantes a você; faça pausas no trabalho ao longo do dia; equilibre o esforço mental com esforço físico. E procure um psiquiatra se você sente que as coisas não estão legais - ele nada mais é do que um médico que trabalha com a regularização do funcionamento do seu organismo -, além de um terapeuta recomendado, caso você sinta que seus problemas estão muito pesados e complicados de resolver. E seja feliz! Afinal, hoje em dia até um Rei é considerado igual a você!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O medo

A Loira do Banheiro é um problema.
De todas as escolas que já visitei, com todos os alunos de cada uma que já conversei, a única reclamação que recebi foi de uma mãe, por intermédio da coordenação de uma escola, alguns anos atrás, dizendo que sua filha havia chorado por causa da Loira e que ela não tinha gostado de a pequena ter lido o livro.

Muito chato. Eu mesma nunca queria que algo que eu tivesse escrito passasse alguma sensação ruim a alguma criança, por mais cuidado que eu tenha em adaptar e amenizar as informações mais pesadinhas do folclore. Mas eu me pergunto: como é possível que, entre todas as outras crianças, a Loira seja campeã de popularidade? Com ou sem medo, as crianças são loucas por ela - assim como eu fui quando criança.

Na verdade, eu mesma aproveitei a onda da lenda da Loira do Banheiro para assustar as outras meninas da minha turma. Eu tinha medo de entrar no banheiro, que ficava isoladão no pátio, mas resolvi contornar o medo justamente gritando pras outras meninas que eu tinha visto a Loira. Todas nós saímos correndo e rindo, é claro. Coisa de criança. Mas acho interessante, sim, refletir sobre a questão do medo.

No meu ponto de vista, um pouquinho de medo é saudável. O medo tem a função de alerta, cuidado. O meu primeiro livro preferido, como costumo dizer, foi "Os fantasmas da casa mal-assombrada", de Carlos de Marigny. Depois li mais algumas coisas do gênero e cheguei a Edgar Allan Poe. Aí vi que peguei pesado e acabei deixando de lado e mudando o foco rs Mas é natural a fase de curiosidade com os temas de fantasmas, monstros, bruxas, aliens. Na adolescência, então, é o auge - o que explica o sucesso de bilheteria no cinema com filmes trash de terror.

A questão é que, quando o medo ultrapassa o nível de "normalidade", tornando-se um problema para a criança, é importante conversar e tratar disso com tranquilidade. Um livro pode ser um instrumento fantástico para a mãe ou o pai trabalharem as emoções da criança. Há várias publicações no mercado que tratam do tema para crianças. Uma delas, "Quem tem medo de escuro?", da Caramelo, eu mesma traduzi, e é de uma sensibilidade incrível, e há também o "Estou com medo" da mesma editora. Os dois estão fora de catálogo, mas podem ser encontrados em sebos e no site Estante Virtual. A Scipione também tem uma coleção chamada "Quem tem medo", com vários temas, assim como outras editoras. Caso o medo intenso persista, talvez seja o caso de buscar uma terapia, pois ele pode ser o reflexo de algum outro tipo de problema que esteja provocando essa insegurança.

A orientação que eu sigo, como escritora, é ter uma base média: usar o bom senso para não tornar as histórias assustadoras demais nem bobinhas. Se apenas uma ou outra criança se sente desconfortável, trata-se da sensibilidade específica dessas crianças, e isso certamente não acontecerá apenas com uma história, mas se refletirá em diversos outros contextos. Daí a importância de cuidar disso.

Eu mesma sou um ótimo exemplo de medrosa. Eu colecionava e lia tanta coisa sobre extraterrestres na minha infância que comecei, durante uma época, a ficar com medo de madrugada, e tinha pesadelos recorrentes com o tema. Na fase adulta, tive alguns períodos de síndrome do pânico, embora, pelas informações que tenho, eu acredite que se trate muito mais de um desgaste físico causado por excesso de ansiedade e preocupação do que por medo em si. Mas não deixa de ser um sintoma relacionado. Nós, adultos, temos muitos medos, e mais graves do que o das crianças - não na intensidade, mas na realidade. O medo do afastamento das pessoas queridas é maior de todos na grande maioria dos casos.

O importante, para lidar com o medo, no caso de qualquer um - adulto, criança, idoso -, é cuidar-se, informar-se, e combatê-lo com perspectivas positivas da realidade, porque, em geral, o medo é fruto de uma visão puramente negativa dos fatos. Não estou fazendo autoajuda barata rs Eu realmente me informo e procuro entender bastante a área de estudos psicológicos para fazer um trabalho responsável como escritora e educadora, na medida que as duas coisas se misturam. Por isso, meu conselho aos pais é sempre conversar, utilizando essa abordagem. A criança tem medos próprios da idade: de largar a chupeta, do escuro, da escola, etc. Mas, com suporte e amor, ela os enfrentará normalmente, como qualquer outra criança, e se tornará uma pessoinha mais fortalecida em seu desenvolvimento.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A escola pública

Na semana passada, visitei duas escolas públicas estaduais: o Guerino Raso e o Blanca Zwicker Simões. São duas escolas bastante distintas, que me deram experiências igualmente ricas e prazerosas. Não tenho palavras pra descrever a emoção desse contato com as crianças e os professores - é absolutamente renovador para mim! A cada visita, eu aprendo mais e mais com todos eles.

Com os professores me atualizo sobre trabalhos lindos que estão sendo feitos com os alunos e sobre as dificuldades do momento no ensino público, o que me faz admirar cada vez mais o trabalho divino que eles, os diretores e os demais funcionários fazem pelas crianças. É muito bom ver pessoas dedicando amor ao próximo, independentemente de fazer parte de um contexto de trabalho. Isso ainda existe! É reenergizante.Com os alunos, eu me conecto com a essência de ser, com o olhar leve para o mundo, com a realidade do momento, lembro-me do modo de pensar como criança, e me encanto com as coisas que elas me dizem. Além disso, elas me inspiram demais: pelo seu comportamento, pelas palavras, e, mais diretamente, pelas sugestões de histórias que dão. É muito legal ver que os meninos continuam gostando de aventuras e as meninas, de princesas. Mesmo que esse universo seja renovado e repensado, criança é criança, e isso não muda com o passar do tempo.

Eu estudei em escola pública. Estadual também. Houve muitas coisas boas e muitas coisas ruins nisso. Das boas, posso destacar que, quando passei da primeira série em colégio particular para a segunda série no estadual, este era muito mais forte que o primeiro. O ensino público AINDA era mais valorizado, como na época dos meus pais e avós. Eu presenciei bem a virada do descaso do governo com os professores e a estrutura escolar e a decadência do ensino. Já estou entrando na parte ruim: na sexta série, por exemplo, passei o ano sem ter aula de história por causa das greves e das CINCO mudanças de professores. E era uma das minhas matérias preferidas, de modo que supri depois o gap lendo um livro emprestado de uma amiga e fazendo cursinho. No colegial, quando passei para o período noturno, porque trabalhava, simplesmente não tinha aulas às sextas-feiras, porque ninguém entrava na escola, e foi marcante (negativamente) para mim um dia em que faltou luz e os alunos resolveram simplesmente jogar as carteiras e detonar a escola. No final, ficamos eu e mais DUAS alunas ajudando os funcionários a recolocar tudo em ordem. Todas as outras saíram rindo.

Mas, acima de tudo, tive professores maravilhosos, amigos incríveis, uma vivência fantástica, e aprendi a ter iniciativa e lutar pelo meu futuro. Ralei muito para fazer um cursinho de três meses e entrar na faculdade, o que consegui um ano depois do previsto, porque na primeira tentativa passei na primeira fase da Fuvest com a nota de corte e, apesar de ter ido bem na segunda, juntando as duas notas caí fora (naquele ano jornalismo estava concorridíssimo: 52 candidatos por vaga). Mas no ano seguinte entrei na Cásper, fiz novos amigos queridíssimos, totalmente um novo mundo, e que fazem parte da minha vida até hoje, e dei continuidade aos meus estudos e interesses até me tornar editora e escritora. Por isso faço questão de voltar às escolas, especialmente públicas, e dizer: se vocês realmente quiserem e se dedicarem, chegarão aonde quiserem!

Há pouco tempo reencontrei muitos amigos da turma da escola (antes, ginásio, atual ensino fundamental II). Eu, que tenho uma certa veia de promoter, e, sem dúvida, com a ajuda da internet e de um amigão, consegui juntar o povo algumas vezes para trocarmos ideias e matar as saudades. Foi uma das melhores coisas que fiz. As pessoas queridas são o que temos de mais valioso na vida. Sem elas, nada faz sentido. Por isso, eu adoro frequentar escolas e renovar a energia nesse ambiente que começa a proporcionar a socialização e a experiência de mundo de todo ser humano. Crianças, aproveitem da melhor forma o seu tempo na escola! Ele vai marcar sua vida para sempre, querendo ou não, então, procurem tirar o melhor de cada dia e ser felizes!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O mais legal do folclore

As crianças sempre me perguntam por que eu resolvi escrever sobre folclore. A resposta é simples: quando criança, eu me encantava com o mistério dos mitos (a parte do folclore que acho mais legal, daí o nome do meu primeiro livro), mas ficava frustrada em ver apenas textos falando do Saci, do Lobisomem, da Mula, do Caipora e do Boitatá. Eu já tinha ouvido falar que havia outros personagens, mas não encontrava isso nos livros. Então, ao escrever meu primeiro livro, fui fundo nessa busca, e encontrei mais de cem personagens diferentes! Cada um dos meus três livros sobre mitos brasileiros tem 14 personagens, o que totaliza 42. Eu não usei todos os personagens por algumas razões: alguns eram muito violentos, outros eram muito parecidos entre si, e eu também pretendia manter a fórmula de história-mistério com suspeitos, então não valeria a pena abrir demais o número de personagens.

O que acho interessante nisso tudo é que o folclore sempre traz novidades e curiosidades. Da minha infância até poucos anos atrás, folclore no Brasil era tido muito como algo brega e sem valor. Já após as ondas de discussão sobre globalização, em que as culturas regionais no mundo todo passaram a ser valorizadas em oposição às padronizações decorrentes da comunicação via internet, o Brasil também redescobriu seu valor, felizmente, e hoje o folclore tem estado muito presente em diversas manifestações artísticas, incluindo artes plásticas e música, nos livros, que aumentaram violentamente o volume de histórias com o tema, e até em áreas como a moda, pois em quase toda temporada há algum desfile baseado em cultura regional brasileira. O ápice disso para mim foi a belíssima exposição feita pelo Ronaldo Fraga, sobre o rio São Francisco, que lembrou personagens exóticos também presentes nos meus livros, como o Negro D'Água, a Pisadeira e a Mãe D'Água.

Agosto é o mês em que comemoramos o folclore, e as escolas costumam trabalhar de maneira mais expressiva sobre o tema, mas minha sugestão é que esses estudos e brincadeiras não se restrinjam apenas a essa data, porque nosso país é um dos mais ricos em folclore, e a arte popular é deliciosa, digna de alegrar nosso dia a dia sempre.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Como escrever um livro?

Escrevo este novo texto como jornalista, como editora, como educadora, mas, acima de tudo, como leitora.
As pessoas me perguntam o que precisam fazer para escrever um livro infantil. Às vezes isso soa meio estranho, porque muitas delas não querem escrever um livro; querem publicar um livro. São coisas bem diferentes: quem quer escrever tem uma mensagem para transmitir ou um desabafo a fazer, e a publicação é consequência; quem quer publicar quer apenas ver seu nome em destaque, sentir-se importante. Não que a primeira exclua a segunda, mas o contrário costuma ser um tanto vazio...

Mas, para aqueles que têm muita vontade de ter um livro para chamar de seu, o único conselho que considero fundamental é: seja original. Não adianta escrever história de passarinho que foi atingido com estilingue porque isso é a primeira coisa em que todo mundo pensa. É o óbvio do óbvio, e está superdesatualizado. Quer muito falar do estilingue? Então invente um passarinho mágico e uma aventura que leve o menino malvado para um reino distante. Mesmo assim, vá por mim: dá para fazer isso sem passarinho nem estilingue, e bem melhor.

Estudos científicos comprovam que momentos de relaxamento propiciam mais criatividade no cérebro. É por isso que boas ideias frequentemente surgem na hora de dormir ou acordar ou no banho. Eu costumo ter também muitas ideias no trânsito. Na minha casa toda há bloquinhos e canetas espalhados, e na minha bolsa a cadernetinha é presença garantida. Algumas pessoas conseguem guardar as ideias na cabeça, mas não é o meu caso, nem o da grande maioria, então não custa prevenir: anote-as.

Finalmente, com o texto em mãos, o caminho padrão é encaminhá-lo a uma editora (o site de cada uma costuma dar instruções). É importante conhecer as outras publicações de cada editora para saber se seu estilo e tema "combinam" com ela antes de procurá-la. Pode ter certeza de que, se for muito especial mesmo, cedo ou tarde o seu texto será reconhecido - mesmo que seja na quinta ou na sexta tentativa. Isso aconteceu comigo no meu primeiro livro, e aconteceu com J. K. Rowling, a autora do Harry Potter, além de vários outros autores. Porém, há outra coisa de que o autor deve sempre lançar mão: paciência. As respostas costumam demorar muito, o processo é longo, e nem sempre o momento de escrever é delicioso, porque dá muito trabalho, e muitas vezes temos que parar por um tempo para permitir a vinda de novas perspectivas.

Se, ainda assim, você não conseguir a publicação porque sua história não é tão interessante para as outras pessoas, não desanime e continue escrevendo. Você poderá aperfeiçoar seu estilo e sua forma de se comunicar, mas, mais importante que isso, será capaz de se desenvolver como pessoa e de se conhecer melhor. E isso, sim, é muito valioso.

domingo, 14 de agosto de 2011

Adultização precoce e Adultescência

Eu pintava as unhas de vermelho com quatro anos de idade. Na verdade, o meu pai as pintava para mim. Era um momento nosso. Eu adorava. Mas eu também brincava com os esmaltes da minha mãe, imaginando que eram pessoinhas, e passava horas me divertindo.

Às vezes eu acho que essa é uma das grandes diferenças com relação ao que acontece com as crianças de hoje. Fiquei chocada com uma das escolas que visitei, em que as meninas do primeiro ano, pititicas, estavam TODAS maquiadas, às oito horas da manhã.

O fenômeno da adultização me assusta, mas não simplesmente pelo fato de as crianças reduzirem o tempo da infância, e sim porque elas estão se prendendo a signos que não são de fato relevantes. Na verdade, está tudo muito relacionado à aparência e ao consumo. Se a adultização pelo menos estivesse focada em VALORES, aí não teríamos o contraponto, que é o fenômeno da ADULTESCÊNCIA, em que pessoas com mais de 30 anos vivem como adolescentes inconsequentes, postergando o estabelecimento da maturidade emocional.

Mas também não dá para deixar de lado a questão da brincadeira, da diversão, da imaginação. O imaginário infantil é fundamental para expandir a inteligência e a percepção de mundo. Eu me lembro de que brincava, escondido, óbvio, de Barbie com as minhas amigas - as mais namoradeiras, inclusive - até os 14 anos. Era nosso segredo absoluto. Saíamos com os meninos, mas nos reuníamos toda semana sigilosamente para nosso passatempo mais secreto. Eu até já trabalhava nessa época...

Não acho que exista uma fórmula ideal, e acredito que a natureza de cada um deva ser respeitada, e também não gosto de discursos conservadores por si só e vazios, mas acredito que esses comportamentos, geralmente individualistas, têm algumas consequências, e, em algumas pessoas, poderão ter efeitos bastante intensos. Mas, acima de tudo, faço um apelo aos pais e educadores: reforcem a questão dos valores, do pensar no outro, da solidariedade, do zelo pelos relacionamentos. A carência desses preciosos ensinamentos infelizmente já está gerando alguns resultados negativos na sociedade, mas sempre é tempo de evoluir. Como dizia a raposa, "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

* O fenômeno da adultização precoce e da adultescência estão sendo estudados por psicólogos e já há bastante material a respeito para consulta.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Criança é cruel?

Já ouvi essa frase diversas vezes e ela sempre me incomodou muito. Especialmente porque, em qualquer lugar, toda vez que estive perto de crianças, senti minha energia absolutamente renovada. É empírico. Agora, porém, que estou lançando um livro sobre bullying - "O recreio da bicharada" -, e estudei muito esse assunto, pude confirmar a minha teoria e responder com todas as letras: NÃO, criança NÃO é cruel.

Então como explicar o comportamento inaceitável e agressivo de tantas crianças nas escolas, criando apelidos ofensivos e até machucando outras crianças? As pesquisas dos especialistas em todos os casos de que tive conhecimento têm uma mesma causa: os adultos. Todos os casos estudados em que as crianças apresentam comportamento agressivo provêm de exemplos que elas recebem de casa - elas quase sempre são vítimas ou de agressão física, ou psicológica. Ou seja, é um comportamento aprendido, e não inerente à sua pessoa.

Existem exceções, claro. Se considerarmos que há distúrbios psiquiátricos, em pessoas que, de certa forma,  não possuem o que chamamos de "empatia", certamente isso explicaria casos mais graves - e que se manifestam com clareza, geralmente, em idade mais avançada, após a adolescência.

Também há aquelas crianças que, desde muito pequenas, aprontam bastante e muitas vezes são, ao mesmo tempo, hiperativas. O que tenho de informações teóricas sobre isso nas minhas leituras de psicologia é que faz parte do desenvolvimento da criança, geralmente de seis em seis meses, intercalar comportamentos de "boazinhas" com "pestinhas", mas isso serve para ela ir testando os limites e, nesse caso, é fundamental a postura adequada dos pais ao direcioná-las - embora eu possa pagar a língua, por ainda não ser mãe!

De um jeito ou de outro, o que fica claro para mim é que é muito importante termos ciência da nossa referência para os pequenos, sem culpa de impor os limites necessários e cuidando no trato carinhoso com eles, pois, ainda que todos os estudos estivessem errados, uma coisa não podemos negar: nós somos responsáveis por exercer, no mínimo, uma influência sobre esses cidadãozinhos que estão aprendendo o que é o mundo e como se relacionar com ele, e essa influência pode ser fundamental na vida futura deles.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A infância

Eu tenho síndrome de Peter Pan.
Já ouviu falar? É um nome engraçado com que se identificam as pessoinhas que querem continuar sendo crianças para sempre.
Mas pense bem: ser criança significa brincar muito, ter poucas obrigações, basicamente só... curtir a vida! É muito legal.
No meu caso, tudo isso vem agregado de um outro fator bem importante: na minha infância eu estava sempre cercada de pessoas muito queridas que hoje não estão mais aqui fisicamente... Por sorte eu acredito e sinto que elas estão presentes de outra forma, e isso me ajuda também a reverter um pouco essa situação e CURTIR A FASE ADULTA!
O bom da vida, no fundo, é a gente saber preservar as coisas boas que passaram e aproveitar ao máximo as que estão acontecendo agora, enchendo também uma cestinha cheia de sonhos e planos cintilantes para o futuro (isso se chama motivação - algo de que os seres humanos não podem viver sem!).
Enfim, como dizia o grande e maior filósofo que adoro muito, temos que viver "como se fôssemos criancinhas", no sentido de manter aqueles sentimentos puros e bonitos que elas nos mostram o tempo todo, e aproveitar nosso potencial no mundo adulto de maneira mais lúdica, leve e feliz.
Salve Peter Pan! Mas salve Wendy também!

domingo, 31 de julho de 2011

Olá!

Finalmente consegui um tempinho para fazer o meu blog! Quero usá-lo como mais um canal de comunicação para que possamos nos conhecer melhor e trocar muitas ideias! Vou partilhar com vocês meus pensamentos, especialmente em relação às coisas da vida que têm ocupado um espacinho no meu cérebro... Os leitores vão conhecer um pouco mais do lado humano e pessoal da autora Luciana Garcia, mas também serão sempre muito bem-vindos comentários e sugestões sobre meus livros! Um beijo e não se esqueça de sempre viver um pouquinho mo mundo da lua!