domingo, 14 de agosto de 2011

Adultização precoce e Adultescência

Eu pintava as unhas de vermelho com quatro anos de idade. Na verdade, o meu pai as pintava para mim. Era um momento nosso. Eu adorava. Mas eu também brincava com os esmaltes da minha mãe, imaginando que eram pessoinhas, e passava horas me divertindo.

Às vezes eu acho que essa é uma das grandes diferenças com relação ao que acontece com as crianças de hoje. Fiquei chocada com uma das escolas que visitei, em que as meninas do primeiro ano, pititicas, estavam TODAS maquiadas, às oito horas da manhã.

O fenômeno da adultização me assusta, mas não simplesmente pelo fato de as crianças reduzirem o tempo da infância, e sim porque elas estão se prendendo a signos que não são de fato relevantes. Na verdade, está tudo muito relacionado à aparência e ao consumo. Se a adultização pelo menos estivesse focada em VALORES, aí não teríamos o contraponto, que é o fenômeno da ADULTESCÊNCIA, em que pessoas com mais de 30 anos vivem como adolescentes inconsequentes, postergando o estabelecimento da maturidade emocional.

Mas também não dá para deixar de lado a questão da brincadeira, da diversão, da imaginação. O imaginário infantil é fundamental para expandir a inteligência e a percepção de mundo. Eu me lembro de que brincava, escondido, óbvio, de Barbie com as minhas amigas - as mais namoradeiras, inclusive - até os 14 anos. Era nosso segredo absoluto. Saíamos com os meninos, mas nos reuníamos toda semana sigilosamente para nosso passatempo mais secreto. Eu até já trabalhava nessa época...

Não acho que exista uma fórmula ideal, e acredito que a natureza de cada um deva ser respeitada, e também não gosto de discursos conservadores por si só e vazios, mas acredito que esses comportamentos, geralmente individualistas, têm algumas consequências, e, em algumas pessoas, poderão ter efeitos bastante intensos. Mas, acima de tudo, faço um apelo aos pais e educadores: reforcem a questão dos valores, do pensar no outro, da solidariedade, do zelo pelos relacionamentos. A carência desses preciosos ensinamentos infelizmente já está gerando alguns resultados negativos na sociedade, mas sempre é tempo de evoluir. Como dizia a raposa, "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".

* O fenômeno da adultização precoce e da adultescência estão sendo estudados por psicólogos e já há bastante material a respeito para consulta.

2 comentários:

  1. Tenho que assinar embaixo, amiga. Eu sinto horrores a falta da minha infância e ver as crianças com pressa de deixar as suas pra trás sempre me mortifica. Se elas soubessem o que vem depois... rs!
    Vou divulgar seu texto no Facebook, pois tenho muita gente lá aque se relaciona diariamente com crianças.
    Grande beijo.

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