segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Minha entrevista exclusiva com Roberto Bolaños, o Chaves

Conforme prometido, estou postando aqui a entrevista que fiz, via email, com Roberto Bolaños, o "Chaves", entre 1999 e 2000, e que nunca foi ao ar na íntegra.
Decidi manter até mesmo as perguntas que eu normalmente editaria, pelo fato de não acrescentarem informações relevantes, para que seja possível avaliar totalmente como se deu a conversa.
Minha pequena homenagem a esse grande artista e à sua infinidade de fãs...





"Antes mesmo de você nascer, 'Chaves' já era apresentado no Brasil. Há dezessete anos, o programa conquista diferentes gerações, rendendo uma audiência surpreendente, principalmente porque os episódios são reprisados várias vezes, de segunda a sexta, no SBT. E, mesmo com as repetições e muita simplicidade, é mais assistido do que programas novinhos feitos aqui no país. Qual será o segredo de tanto sucesso? Fomos atrás do próprio Chaves para tentar descobrir a resposta.


Isso, isso, isso

Talvez você não saiba, mas o mexicano simpático que faz os personagens Chaves e Chapolin é Roberto Gómez Bolaños (pronuncia-se Bolanhos) Chespirito, está com 71 anos de idade, tem seis filhos e é casado com Florinda Meza, ninguém menos do que a atriz que faz o papel de Dona Florinda no seriado.

No México, "Chespirito" é uma forma castelhana de se referir ao dramaturgo Shakespeare. Graças ao diretor de cinema Augustín P. Delgado, Roberto Bolaños ficou conhecido como 'pequeno Shakespeare' - provavelmente por seu 1,60m de altura. Assim, o comediante resolveu adotar o apelido de vez como nome artístico.

Hoje, Chespirito e Florinda atuam no México com a comédia teatral '11 e 12', que já superou três mil apresentações e está em cartaz há oito anos. Chespirito criou, além de Chaves e Chapolin - os mais conhecidos no Brasil -, muitos outros personagens, como Chompiras e Doutor Chapatín.



Sigam-me os bons

Onde estão o Quico, o Professor Girafales, o Seu Barriga? O que estão fazendo hoje em dia? Em entrevista exclusiva, Chespirito conta um pouco sobre sua vida, sua carreira e sobre os outros atores dos seriados.

Luciana - Qual é a principal mensagem que você queria transmitir pelos personagens Chaves e Chapolin? 
Bolaños - Procuro divertir de maneira saudável, sem fazer mal.

Luciana - O personagem Chespirito não é tão famoso no Brasil. Fale um pouquinho sobre como ele é.
Bolaños - Tranquilo. Tímido. Otimista. Honesto. Feio. Frágil. Ágil. Medroso.

Luciana - Quantos personagens você criou e quais são os nomes deles? Qual é o seu preferido e por quê?
Bolaños - Eu criei muitos personagens. Os meus preferidos são o Chapolin Colorado e o Chómpiras.

Luciana - Por que você escolheu trabalhar para crianças?
Bolaños - Eu não trabalho para crianças. Se elas gostam do meu trabalho, é ótimo, mas eu trabalho para toda a família.

Luciana - Quando você criou os personagens?
Bolaños - Cada um foi criado em uma época diferente.

Luciana - Você pretende vir ao Brasil? Já esteve aqui?
Bolaños - Estive em Foz do Iguaçu. Conheci as cataratas e a usina hidrelétrica de Itaipu. Um dia devo conhecer mais coisas.

Luciana - Como você se sente, sabendo que é tão querido no Brasil?
Bolaños - Eu me sinto muito lisonjeado.

Luciana - Entre os atores, quem foi seu grande companheiro profissional enquanto gravavam o programa do Chaves?
Bolaños - Todos, mas principalmente Florinda Meza, que é minha esposa.

Luciana - Por onde andam os atores que faziam o seriado atualmente?
Bolaños - María Antonieta de las Nieves Gómes (Chiquinha) trabalha com a personagem Chilindrina. Rúben Aguirre (Professor Girafales) trabalha de vez em quando com seu personagem e também desenvolve outros projetos para a televisão. Carlos Villagrán (Quico) trabalha como Quico. Edgar Vivar (Seu Barriga) trabalha no teatro e em telenovelas. Ramón Valdés (Seu Madruga) e Angelines Fernández (Bruxa do 71) lamentavelmente faleceram. Assim como meu irmão Horacio Gómez Bolaños, que interpretava o Godinez na escolinha.

Luciana - Além do espetáculo '11 e 12', que outros trabalhos você pretende fazer?
Bolaños - '11 e 12' é uma obra de teatro que tem tido um êxito sem igual. Quero fazer uma turnê com essa peça pela América Latina.

Luciana - Que mensagem você deixaria para os seus fãs brasileiros?
Bolaños - Que os amo. Que agradeço infinitamente por verem os meus programas e dizerem que gostam deles.

Luciana - Obrigada por sua atenção e carinho.
Bolaños - Obrigada a você, por seu interesse, sua paciência (pois me esperou bastante) e seu profissionalismo.

Luciana - Saudações do Brasil.
Bolaños - Recebam minhas saudações do México de seu amigo Roberto Gómez Bolaños Chespirito.


Foi sem querer querendo

* O pai de Chespirito, Francisco Gómez Linares, foi pintor, desenhista e ilustrador de vários jornais, revistas e livros.

* Além de ator, diretor e produtor, Chespirito é escritor, desenhista, publicitário, compositor e roteirista de rádio, televisão, teatro e cinema. Embora não tenha exercido a profissão, também estudou engenharia mecânica e eletricidade.

* Chespirito faz aniversário no dia 21 de fevereiro.

* As séries 'Chaves' e 'Chapolin' foram gravadas sem parar durante 25 anos.

* Chapolin surgiu em 1970, e Chaves, em 1971.

* Embora milhões de pessoas adorassem seus programas, os intelectuais sempre criticaram Chespirito. Agora, os próprios críticos elogiam sua peça de teatro.

* O grande comediante Mario Moreno 'Cantinflas' chegou a convidar Chespirito para ser o roteirista de um de seus programas.

* Chespirito lotou estádios e bateu recordes de público com seu show em países como Estados Unidos, Chile e Argentina.

* O Chapolin Colorado é um dos personagens preferidos de Homer, da série de desenho animado 'Os Simpsons'."


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O trabalho no século XXI: você já leu "O ócio criativo"?

Faz tempo que quero falar sobre este que é um dos temas mais centrais na minha vida: a revolta contra a exploração do trabalho que vivemos no Brasil e em outros países "em desenvolvimento".

Além de trabalharmos quantidades de horas que ultrapassam a fase crítica da Revolução Industrial (sim, muita gente passa facilmente 15 horas na empresa), somos tratados como prisioneiros em muitos ofícios, nos quais não temos "permissão" de ir até a padaria comprar um sanduíche se tivermos fome no meio do expediente, temos a obrigação de fazer hora extra (quase sempre para banco de horas), não podemos tirar férias quando e como queremos (e a que temos direito), e nossa criatividade é esmagada pela necessidade de estar presente "pagando cartão", ou pelo jogo competitivo e canibal de cumprimento de metas esdrúxulas e cada vez mais inalcançáveis - o que só nos coloca contra os colegas com os quais convivemos mais do que com nossa família.

Domenico De Masi, o sociólogo italiano, escreveu em 2000, no livro O ócio criativo, o seguinte:

"As pesquisas sobre o teletrabalho (...) o trabalho que não é realizado nos escritórios, mas na própria residência, evidenciam que as tarefas que na empresa requerem de 8 a 10 horas para serem realizadas em casa se realizam, comodamente, na metade do tempo: de 4 a 5 horas, no máximo. (...) se reduzirmos os horários de expediente em só uma ou duas horas por dia, o número de pessoas que já trabalha continuará a ser suficiente."

Segundo ele, em 2000, 36% da população ativa da Holanda já trabalhava apenas durante meio período. Na França, ao reduzir as horas semanais de trabalho para 35, em 1989, o número de trabalhadores aumentou em 2,5%. Hoje, o país, como vários outros na Europa, contam com trabalhos de 30 ou mesmo 20 horas semanais.

Mas o trabalho em casa e a redução de horas trabalhadas são apenas dois detalhes de uma grande teoria revolucionária - embora óbvia; o foco na qualidade de vida é que é o ponto central de tudo.

Já comentei em post anterior que estamos mentalmente overssobrecarregados se compararmos o trabalho atual com o realizado antes da década de 1990: faço parte da geração que usava máquina de escrever e que passava uma tarde para escrever um texto, enquanto, com a chegada dos microcomputadores e da internet, automaticamente passamos a realizar umas 30 tarefas mentais durante o mesmo tempo (ou você nunca falou ao telefone ao mesmo tempo que respondia a um email, anotava suas próximas atividades no papel e ainda lia a nova mensagem que entrava no msn?). O próprio De Masi reforça isso: "com 14 horas de trabalho humano, a Fiat fabrica, atualmente [em 2000], o mesmo produto que, há 15 anos, fabricava em 170 horas".

É claro que ansiedade, stress, fadiga e outros problemas são consequentes dessa aceleração, e ainda não temos pesquisas científicas claras sobre como lidar com esse tipo de consequência - portanto, cabe a nós tomar a iniciativa de mudar esse quadro. Não é nem um pouco fácil, mas justamente quando esbarramos nas grandes barreiras da vida é que ganhamos a força e a coragem que surpreendem as pessoas. Depois de passar por todos esses perrengues descritos no início do texto, eu conquistei cargo de confiança e o auge da realização profissional em determinado momento, tornando-me uma workaholic típica - até levar uma puxada de tapete e, no momento financeiro mais vulnerável da minha família, ficar sem emprego e sem perspectiva. O que acontece nessa hora? A gente percebe que absolutamente nada é estável nesta vida, junta energia e segue em frente, com a certeza de que a honestidade e a dedicação terão seu retorno. Mais adiante, essa coragem (e mais um pouco de estafa) me ajudou a pedir demissão de outro bom cargo, e a encarar a vida de autônoma com muito gosto. Mas as piores foram também as melhores experiências que passei: elas me libertaram.

Não é fácil administrar o próprio tempo, o dinheiro e a carreira, e não há uma solução mágica, mas somente parando e refletindo a cada momento encontraremos soluções corajosas para enfrentarmos o desafio: o que de fato é importante na vida? Para que você trabalha? Para que ganha dinheiro? O que se fazer da vida? Qual sua finalidade? A vida é curta, mas é plena. Cabe a nós fazermos dela o melhor que pudermos. E absolutamente nada tem mais valor que... pessoas.

Admito que o assunto é inesgotável (eu poderia escrever quase um livro sobre isso aqui, mas pra quê? O De Masi disse tudo!), porém prefiro fechar o texto com outra citação maravilhosa do sociólogo: "Enquanto é tempo, os executivos deveriam reorganizar as próprias vidas, começando pela cura desse delírio que os faz pensar que são eternos e adiar continuamente para a velhice o momento de curtir a família e os filhos. Deveriam começar a cultivar a própria vida interior, no lugar da carreira que um dia terá fim (...)".

Não deixe de ler O ócio criativo. Quanto mais cedo, melhor.