sábado, 3 de agosto de 2013

Álcool: a maior das drogas III

O maior problema do alcoolismo é que todo mundo acha que está livre dele, quando, na verdade, ninguém, potencialmente, está. Quase sempre se imagina que o dependente de álcool seja aquele que abusa por falta de noção ou de caráter, mas em geral esse descontrole ocorre gradativamente, em meio a risadas, amigos, festas e outras situações supostamente alegres. O perigo do álcool não está necessariamente na fossa; está também na comemoração. Especialmente se a comemoração acontece sempre, pelos motivos mais banais, tornando-se rotina. O álcool não serve mais para celebrar; é a celebração que serve como pretexto para o álcool.

“Vamos tomar uma?” é a maior das mentiras. Quem toma uma de fato? O bebedor moderado, ou seja, que se mantém dentro de um limite respeitável para a saúde de seu corpo e mente, bebe no máximo duas latas de cerveja por dia. Mas o hábito de beber todos os dias da semana também pode desencadear uma dependência.

O erro da maioria das pessoas é pensar que não vai cair nessa. Porque o dependente de álcool não acorda um belo dia dependente, como se tivesse adquirido um vírus. A bebida é um vício mascarado, que vai se espalhando pelo corpo, pelas sinapses e pela vida da pessoa de um modo tão sutil que é praticamente imperceptível, geralmente por anos. Tanto que a primeira pessoa a notar o abuso de álcool quase nunca é o próprio dependente, e sim aqueles que estão próximos a ele: companheiro, amigos, familiares. 

E a primeira reação da vítima ao ouvir uma crítica é dizer que o outro é implicante, que só sabe criticar e acusar, que não sabe nada da vida, que é exagerado, que não há nada de mal em “beber uma” de vez em quando. É quando começa a fase 1 da dependência: a negação. O dependente não é capaz de (e não quer) enxergar que está passando dos limites e se irrita quando se toca no assunto, transferindo culpa ou sua responsabilidade para o outro. Ele pode diminuir ou parar quando quiser – só que nunca quer, ou não tem graça fazê-lo. E a pressão dos amigos nos homens ou a necessidade de autoafirmação das mulheres fala mais alto do que a sensatez.

Gabar-se da bebida e das besteiras cometidas, típicas dos adolescentes (que, no Brasil, infelizmente ainda consomem álcool sem nenhum tipo de controle, ampliando ainda mais a possibilidade de dependência química em curto prazo e atrapalhando seu desenvolvimento neural), é um padrão seguido também na idade adulta, comprovando a eficiência do marketing desenfreado da gigante e poderosíssima indústria da bebida no país. 

Como o cigarro no século passado, a imagem de uma cerveja na mão continua sendo associada à masculinidade, a uma falsa segurança, a um pseudossucesso e, principalmente, a uma completamente vazia liberdade, já que quem está no comando é a bebida, e não a pessoa em sua consciência plena. Quem é jovem não costuma medir consequências ou ser capaz de projetar o impacto no longo prazo que o excesso de álcool poderá ter em sua vida e na de seus entes queridos. Infelizmente, na grande maioria dos casos, quando isso acontece – muitas vezes na meia-idade, o estrago já foi feito.

Enquanto a sociedade mantiver a ignorante postura de que uma das drogas mais nocivas – justamente por sua facilidade de obtenção e ocultação de informações pela indústria quanto aos seus efeitos no médio e longo prazo – é apenas sinônimo de festa e alegria inócuas, como se houvesse uma vacina mágica criadora de uma redoma protetora aos usuários, e fingindo não enxergar quantas famílias sofrem com no mínimo uma pessoa vítima de sua dependência (o que afeta diretamente diversas outras pessoas que, como ocorre com qualquer outra droga, sofrem ainda mais os efeitos do distanciamento, da indiferença, da solidão, do descaso, do desespero, da agressão, da pena, da raiva, da decepção e da mágoa relacionados à pessoa que amam, mas com a qual não suportam mais conviver), muitas vidas serão gravemente feridas na sua mais profunda essência, em dez, vinte ou trinta anos, carregando cicatrizes que se perpetuarão como símbolos de angústia por muitas gerações.

Algumas informações importantes:
  • Uma pessoa que tem problemas com álcool (abuso), mas que talvez ainda não tenha chegado à fase de alcoolista, é identificada por pelo menos um dos sintomas a seguir: 1) dificuldade em cumprir suas responsabilidades de trabalho e estudo; 2) beber em situações de risco, como ao dirigir; 3) envolver-se em briga ou agir de maneira violenta; 4) continuar a beber mesmo após identificar problemas de relacionamento; 5) percepção de que deve diminuir a quantidade de bebida; 6) ficar irritado quando alguém toca no assunto; 7) sentir-se mal ou culpado por beber; 8) beber de manhã para se livrar de uma ressaca ou beber sozinho; 9) ter dor de cabeça ou ressaca com frequência (uma vez por mês não é pouco).  
  • Um alcoolista, ou seja, o dependente químico de álcool, é identificado por pelo menos um dos sintomas a seguir: 1) ter compulsão, ou vontade forte de beber; 2) tolerância, ou seja, necessidade de cada vez maior quantidade de bebida para sentir seus efeitos; 3) dificuldade de parar de beber após ter começado; 4) crise de abstinência, ou reações físicas por causa da falta do álcool, especialmente em usuários de longo prazo.
  • Em ambos os casos o álcool tem importância central na vida da pessoa, ou seja, as coisas "só têm graça" se houver bebida envolvida e a maioria de seus passatempos envolve bebida.
·          Males comprovadamente causados pelo mau uso da bebida segundo pesquisas científicas: problemas no sistema imunológico, danos cerebrais, câncer de fígado, esôfago, garganta e laringe, cirrose hepática, depressão (o álcool é uma droga depressora, mesmo que inicialmente cause sintomas de euforia). 

       Causas da dependência: 1) predisposição genética (histórico familiar), que pode ou não ser determinante; 2) ambiente: influência de colegas e hábito frequente de beber na companhia destes; 3) características psicológicas pessoais, como consciência e controle de riscos, cuidados com a saúde e firmeza de atitudes; 4) idade em que se começa a beber ou quantidade de tempo em que se bebe (se prolongada, por exemplo, por anos). 
             
               Em resumo, existem características físicas e psicológicas, mas tanto um fator como outro podem dar o start para o problema com o álcool. NINGUÉM ESTÁ A SALVO DE TER O PROBLEMA, E SOMENTE NO LONGO PRAZO É QUE SE TEM ESSA RESPOSTA, COMO OCORRE COM QUALQUER OUTRA DROGA. POR ISSO, TODA CAUTELA E INFORMAÇÃO É POUCO.


4 comentários:

  1. Gostei do texto traz informações pertinentes para o problema do alcoolismo.Recomendo, principalmente para trabalhar na prevenção e saber um pouco sobre a doença da dependência química.

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