segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Minha entrevista exclusiva com Roberto Bolaños, o Chaves

Conforme prometido, estou postando aqui a entrevista que fiz, via email, com Roberto Bolaños, o "Chaves", entre 1999 e 2000, e que nunca foi ao ar na íntegra.
Decidi manter até mesmo as perguntas que eu normalmente editaria, pelo fato de não acrescentarem informações relevantes, para que seja possível avaliar totalmente como se deu a conversa.
Minha pequena homenagem a esse grande artista e à sua infinidade de fãs...





"Antes mesmo de você nascer, 'Chaves' já era apresentado no Brasil. Há dezessete anos, o programa conquista diferentes gerações, rendendo uma audiência surpreendente, principalmente porque os episódios são reprisados várias vezes, de segunda a sexta, no SBT. E, mesmo com as repetições e muita simplicidade, é mais assistido do que programas novinhos feitos aqui no país. Qual será o segredo de tanto sucesso? Fomos atrás do próprio Chaves para tentar descobrir a resposta.


Isso, isso, isso

Talvez você não saiba, mas o mexicano simpático que faz os personagens Chaves e Chapolin é Roberto Gómez Bolaños (pronuncia-se Bolanhos) Chespirito, está com 71 anos de idade, tem seis filhos e é casado com Florinda Meza, ninguém menos do que a atriz que faz o papel de Dona Florinda no seriado.

No México, "Chespirito" é uma forma castelhana de se referir ao dramaturgo Shakespeare. Graças ao diretor de cinema Augustín P. Delgado, Roberto Bolaños ficou conhecido como 'pequeno Shakespeare' - provavelmente por seu 1,60m de altura. Assim, o comediante resolveu adotar o apelido de vez como nome artístico.

Hoje, Chespirito e Florinda atuam no México com a comédia teatral '11 e 12', que já superou três mil apresentações e está em cartaz há oito anos. Chespirito criou, além de Chaves e Chapolin - os mais conhecidos no Brasil -, muitos outros personagens, como Chompiras e Doutor Chapatín.



Sigam-me os bons

Onde estão o Quico, o Professor Girafales, o Seu Barriga? O que estão fazendo hoje em dia? Em entrevista exclusiva, Chespirito conta um pouco sobre sua vida, sua carreira e sobre os outros atores dos seriados.

Luciana - Qual é a principal mensagem que você queria transmitir pelos personagens Chaves e Chapolin? 
Bolaños - Procuro divertir de maneira saudável, sem fazer mal.

Luciana - O personagem Chespirito não é tão famoso no Brasil. Fale um pouquinho sobre como ele é.
Bolaños - Tranquilo. Tímido. Otimista. Honesto. Feio. Frágil. Ágil. Medroso.

Luciana - Quantos personagens você criou e quais são os nomes deles? Qual é o seu preferido e por quê?
Bolaños - Eu criei muitos personagens. Os meus preferidos são o Chapolin Colorado e o Chómpiras.

Luciana - Por que você escolheu trabalhar para crianças?
Bolaños - Eu não trabalho para crianças. Se elas gostam do meu trabalho, é ótimo, mas eu trabalho para toda a família.

Luciana - Quando você criou os personagens?
Bolaños - Cada um foi criado em uma época diferente.

Luciana - Você pretende vir ao Brasil? Já esteve aqui?
Bolaños - Estive em Foz do Iguaçu. Conheci as cataratas e a usina hidrelétrica de Itaipu. Um dia devo conhecer mais coisas.

Luciana - Como você se sente, sabendo que é tão querido no Brasil?
Bolaños - Eu me sinto muito lisonjeado.

Luciana - Entre os atores, quem foi seu grande companheiro profissional enquanto gravavam o programa do Chaves?
Bolaños - Todos, mas principalmente Florinda Meza, que é minha esposa.

Luciana - Por onde andam os atores que faziam o seriado atualmente?
Bolaños - María Antonieta de las Nieves Gómes (Chiquinha) trabalha com a personagem Chilindrina. Rúben Aguirre (Professor Girafales) trabalha de vez em quando com seu personagem e também desenvolve outros projetos para a televisão. Carlos Villagrán (Quico) trabalha como Quico. Edgar Vivar (Seu Barriga) trabalha no teatro e em telenovelas. Ramón Valdés (Seu Madruga) e Angelines Fernández (Bruxa do 71) lamentavelmente faleceram. Assim como meu irmão Horacio Gómez Bolaños, que interpretava o Godinez na escolinha.

Luciana - Além do espetáculo '11 e 12', que outros trabalhos você pretende fazer?
Bolaños - '11 e 12' é uma obra de teatro que tem tido um êxito sem igual. Quero fazer uma turnê com essa peça pela América Latina.

Luciana - Que mensagem você deixaria para os seus fãs brasileiros?
Bolaños - Que os amo. Que agradeço infinitamente por verem os meus programas e dizerem que gostam deles.

Luciana - Obrigada por sua atenção e carinho.
Bolaños - Obrigada a você, por seu interesse, sua paciência (pois me esperou bastante) e seu profissionalismo.

Luciana - Saudações do Brasil.
Bolaños - Recebam minhas saudações do México de seu amigo Roberto Gómez Bolaños Chespirito.


Foi sem querer querendo

* O pai de Chespirito, Francisco Gómez Linares, foi pintor, desenhista e ilustrador de vários jornais, revistas e livros.

* Além de ator, diretor e produtor, Chespirito é escritor, desenhista, publicitário, compositor e roteirista de rádio, televisão, teatro e cinema. Embora não tenha exercido a profissão, também estudou engenharia mecânica e eletricidade.

* Chespirito faz aniversário no dia 21 de fevereiro.

* As séries 'Chaves' e 'Chapolin' foram gravadas sem parar durante 25 anos.

* Chapolin surgiu em 1970, e Chaves, em 1971.

* Embora milhões de pessoas adorassem seus programas, os intelectuais sempre criticaram Chespirito. Agora, os próprios críticos elogiam sua peça de teatro.

* O grande comediante Mario Moreno 'Cantinflas' chegou a convidar Chespirito para ser o roteirista de um de seus programas.

* Chespirito lotou estádios e bateu recordes de público com seu show em países como Estados Unidos, Chile e Argentina.

* O Chapolin Colorado é um dos personagens preferidos de Homer, da série de desenho animado 'Os Simpsons'."


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O trabalho no século XXI: você já leu "O ócio criativo"?

Faz tempo que quero falar sobre este que é um dos temas mais centrais na minha vida: a revolta contra a exploração do trabalho que vivemos no Brasil e em outros países "em desenvolvimento".

Além de trabalharmos quantidades de horas que ultrapassam a fase crítica da Revolução Industrial (sim, muita gente passa facilmente 15 horas na empresa), somos tratados como prisioneiros em muitos ofícios, nos quais não temos "permissão" de ir até a padaria comprar um sanduíche se tivermos fome no meio do expediente, temos a obrigação de fazer hora extra (quase sempre para banco de horas), não podemos tirar férias quando e como queremos (e a que temos direito), e nossa criatividade é esmagada pela necessidade de estar presente "pagando cartão", ou pelo jogo competitivo e canibal de cumprimento de metas esdrúxulas e cada vez mais inalcançáveis - o que só nos coloca contra os colegas com os quais convivemos mais do que com nossa família.

Domenico De Masi, o sociólogo italiano, escreveu em 2000, no livro O ócio criativo, o seguinte:

"As pesquisas sobre o teletrabalho (...) o trabalho que não é realizado nos escritórios, mas na própria residência, evidenciam que as tarefas que na empresa requerem de 8 a 10 horas para serem realizadas em casa se realizam, comodamente, na metade do tempo: de 4 a 5 horas, no máximo. (...) se reduzirmos os horários de expediente em só uma ou duas horas por dia, o número de pessoas que já trabalha continuará a ser suficiente."

Segundo ele, em 2000, 36% da população ativa da Holanda já trabalhava apenas durante meio período. Na França, ao reduzir as horas semanais de trabalho para 35, em 1989, o número de trabalhadores aumentou em 2,5%. Hoje, o país, como vários outros na Europa, contam com trabalhos de 30 ou mesmo 20 horas semanais.

Mas o trabalho em casa e a redução de horas trabalhadas são apenas dois detalhes de uma grande teoria revolucionária - embora óbvia; o foco na qualidade de vida é que é o ponto central de tudo.

Já comentei em post anterior que estamos mentalmente overssobrecarregados se compararmos o trabalho atual com o realizado antes da década de 1990: faço parte da geração que usava máquina de escrever e que passava uma tarde para escrever um texto, enquanto, com a chegada dos microcomputadores e da internet, automaticamente passamos a realizar umas 30 tarefas mentais durante o mesmo tempo (ou você nunca falou ao telefone ao mesmo tempo que respondia a um email, anotava suas próximas atividades no papel e ainda lia a nova mensagem que entrava no msn?). O próprio De Masi reforça isso: "com 14 horas de trabalho humano, a Fiat fabrica, atualmente [em 2000], o mesmo produto que, há 15 anos, fabricava em 170 horas".

É claro que ansiedade, stress, fadiga e outros problemas são consequentes dessa aceleração, e ainda não temos pesquisas científicas claras sobre como lidar com esse tipo de consequência - portanto, cabe a nós tomar a iniciativa de mudar esse quadro. Não é nem um pouco fácil, mas justamente quando esbarramos nas grandes barreiras da vida é que ganhamos a força e a coragem que surpreendem as pessoas. Depois de passar por todos esses perrengues descritos no início do texto, eu conquistei cargo de confiança e o auge da realização profissional em determinado momento, tornando-me uma workaholic típica - até levar uma puxada de tapete e, no momento financeiro mais vulnerável da minha família, ficar sem emprego e sem perspectiva. O que acontece nessa hora? A gente percebe que absolutamente nada é estável nesta vida, junta energia e segue em frente, com a certeza de que a honestidade e a dedicação terão seu retorno. Mais adiante, essa coragem (e mais um pouco de estafa) me ajudou a pedir demissão de outro bom cargo, e a encarar a vida de autônoma com muito gosto. Mas as piores foram também as melhores experiências que passei: elas me libertaram.

Não é fácil administrar o próprio tempo, o dinheiro e a carreira, e não há uma solução mágica, mas somente parando e refletindo a cada momento encontraremos soluções corajosas para enfrentarmos o desafio: o que de fato é importante na vida? Para que você trabalha? Para que ganha dinheiro? O que se fazer da vida? Qual sua finalidade? A vida é curta, mas é plena. Cabe a nós fazermos dela o melhor que pudermos. E absolutamente nada tem mais valor que... pessoas.

Admito que o assunto é inesgotável (eu poderia escrever quase um livro sobre isso aqui, mas pra quê? O De Masi disse tudo!), porém prefiro fechar o texto com outra citação maravilhosa do sociólogo: "Enquanto é tempo, os executivos deveriam reorganizar as próprias vidas, começando pela cura desse delírio que os faz pensar que são eternos e adiar continuamente para a velhice o momento de curtir a família e os filhos. Deveriam começar a cultivar a própria vida interior, no lugar da carreira que um dia terá fim (...)".

Não deixe de ler O ócio criativo. Quanto mais cedo, melhor.





quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Crianças e drogas

Agora que falei especificamente sobre álcool e crack, pensei em tratar das drogas em geral. Até porque está sendo lançado meu livro "Os macaquinhos maluquinhos", que trata sobre esse tema para crianças.

E falar de drogas para crianças é uma atitude ousada, tanto que esperei quase três anos para conseguir uma editora corajosa o suficiente para publicar meu livro - mérito todo da Acerola! -, mas ao mesmo tempo é essencial. Muita gente tem medo de que tocar no assunto possa despertar um interesse gratuito, mas o que ocorre é exatamente o contrário: se os pais e os professores forem os primeiros a falar nissoe da maneira adequadacertamentequando os amigos chegarem com novidadesas crianças já estarão preparadas para lidar com a situação.

Além disso, está comprovado que, no caso do crack, há crianças a partir de nove anos de idade fumando, e não é incomum ver crianças de dez a doze fumando cigarro ou consumindo álcool nas ruas. Esse pode não ser o caso do seu filho, mas sem dúvida deparar-se com a situção chamará a atenção dele.

Assim, o melhor momento de discutir a questão das drogas é justamente antes da entrada na adolescência, quando há tempo de informar e formar. O nível de profundidade vai depender sempre do interesse natural da criança - mesma medida que deve ser usada para outras questões delicadas, como sexualidade.

O essencial é lembrar que droga é uma substância que altera a forma de o cérebro funcionar, e isso inclui também o álcool e o fumo: as drogas lícitas, ou aceitas pela sociedade. Não se deve esconder que as drogas têm um lado atraente - sensações provocadas -, mas que o lado obscuro por trás disso é muito mais intenso e significativo. Em outras palavras, não arriscar é a única garantia de total segurança.

Também é muito interessante lembrar que a indústria por trás da venda das drogas tem todo o interesse em esconder os malefícios causados pelo simples objetivo de ganhar dinheiro, de modo que não se deve cair em argumentos favoráveis ao uso, já que se trata de manipulação de informações. A importância dessa ênfase está no fato de a indústria das drogas cada vez mais direcionar seu apelo aos jovens, na tentativa de fazê-los clientes de médio e longo prazo.

Podemos, ainda, explicar que o uso das drogas, além de trazer problemas de saúde e psíquicos, fazem mal a todos ao redor do usuário, pois muitas vezes a alteração de comportamento leva a violência e a outras atitudes negativas que normalmente não teriam, afetando relacionamentos com aqueles que mais amam e magoando-os.

Só para complementar, gostaria de desmascarar a lenda de que a maconha não vicia: ela não apenas provoca o vício nas pessoas propensas como pode, num único uso, causar transtornos graves, como a síndrome de pânico. E pessoas mais propensas não são aquelas mais bonitinhas, ricas ou bem-sucedidas: pode ser qualquer uma, e a única maneira de saber é arriscando-se.

Outro dado interessante: quem acredita na falsa afirmação de que "todo mundo usa drogas" tem mais chances de fazer uso de substâncias nocivas, e a grande maioria dos jovens não usa drogas, o que pode ser tranquilamente afirmado com base em pesquisas científicas.

De todo modo, "Os macaquinhos macaquinhos" é apenas uma fábula de ficção divertidinha que permite a introdução do tema pelos pais ou professores - apresentando informações específicas sobre como abordar o assunto com seus filhos ou alunos ao final do livro.

Para finalizar, uma coisa é certa: não podemos controlar tudo na vida, mas aquilo que podemos já faz toda a diferença! Então vamos fazer a nossa parte...

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Nós e o consumismo

"Rata Fashion e Esquilo no shopping" é o meu livro de fábulas que trata de consumismo, lançado em 2011. Foi ótima a experiência de escrevê-lo e de pesquisar o assunto, embora eu já tivesse bastante "experiência pessoal" nisso.

Sim, porque, além de editora e escritora, inventei de realizar um sonho antigo e investi em outra carreira paralela: a de consultora de estilo - ou personal stylist. Um dia - muito em breve, espero -, esse caminho vai cruzar com o de escritora, mas o fato é que estar em contato o tempo todo com uma paixão como a moda é altamente tentador, e eu, que gosto de estética de modo geral (inclusive e principalmente no design dos livros), preciso controlar bastante os impulsos nas visitas aos shoppings.

Justamente porque todos nós somos diariamente bombardeados por apelos de compra dos mais variados tipos (pela TV, nas revistas, na internet, por correio, por email, etc.), cabe-nos o cuidado de servir como bons exemplos aos pequenos, sabendo discernir entre as necessidades e as armadilhas que a todo momento nos são preparadas.

Assim, partilho com vocês alguns dos conselhos sobre evitar gastos desnecessários e compras por impulso que adquiri ao pesquisar o tema para meu conhecimento pessoal e profissional:

* Uma das características principais da sociedade de consumo é a criação da necessidade de se consumir mais do que o necessário. Assim, um bom meio de neutralizar esse poder é ater-se ao máximo àquilo que de fato precisa ser comprado, por meio do preparo de listas de compras, de planejamento prévio sobre quanto gastar, da comparação de preços, do cuidado com produtos já adquiridos para que durem ao máximo, assim como a reciclagem e o reúso de objetos.

* Discutir em casa o conceito de materialismo, ou a oposição entre serter - por exemplo, questionando quão importante é obter aquilo que o colega possui, o que de fato significa prestígio ou quais são as maiores prioridades em nossa vida.

* Planejar atividades de lazer longe dos shoppings sempre que possível, transferindo a sensação de bem-estar material para outros focos realmente saudáveis, como jogos e esportes, passeios ao ar livre, exposições, apresentações musicais, etc.

* Atenção para a falsa criação de necessidades constantes de consumo, como fugazes avanços tecnológicos ou tendências superficiais de moda (lembre-se de que quem dita as tendências é o departamento comercial dessa indústria, com base, entre outras coisas, em materiais abundantes que possam gerar preços convidativos).

* Lembrar-se de que as lojas em geral valem-se de inúmeros recursos de marketing para propiciar o máximo de gasto possível do consumidor, como fazer com que perca a noção do tempo ou determinar o trajeto que ele deverá fazer em seu espaço, especialmente os shoppings e os supermercados, e que você tem autonomia para decidir seu trajeto e suas necessidades reais de compra.  

* Conhecer alguns sintomas que podem indicar vício em compras (embora não necessariamente!): a) gastar mais do que pode; b) comprar e não usar (em excesso); c) esconder as compras para evitar sermões esperados; d) mentir sobre o fato de ter comprado; e) sensação de culpa por gastar; f) canalizar afetividade em objetos materiais; g) ter grande necessidade de aprovação pelos outros; h) ter baixa autoestima; i) ter o hábito de fugir de problemas.
Atenção: isso só chega a ser um problema de fato quando há algum extremo, como comportamento diário de compras ou endividamento. Afinal, é quase impraticável nunca dar uma escorregadinha nesse turbilhão de apelos, mas, tendo consciência disso, é perfeitamente possível driblá-lo!




terça-feira, 27 de agosto de 2013

Crack: a droga da vez

Nem bem lancei o livro "Encantos da Amazônia", já estou a mil escrevendo um novo livro, desta vez sobre o crack. Foi um convite incrível que me fez mergulhar na pesquisa desse mundo terrível que envolve o uso da droga. Assim, gostaria de partilhar com vocês algumas das informações que estou absorvendo durante este trabalho, dando sequência às postagens sobre substâncias nocivas para o cérebro.

* O crack não é mais tido como uma droga restrita a usuários pobres. Atualmente, tem envolvido pessoas de todas as classes sociais e de todas as faixas etárias - inclusive idosos!

* Muitas vezes, o crack começa a ser usado na falta da cocaína, pois sua composição é feita com base nessa droga, misturada ao bicarbonato de sódio. A diferença é que é fumada, geralmente em cachimbo.

* As consequências de seu uso, no entanto, são ainda mais devastadoras, pois a substância chega mais rápido ao cérebro que as outras drogas, criando um efeito mais intenso e que passa mais rápido, o que automaticamente cria a necessidade do novo uso e a dependência praticamente imediata.

* A pessoa dependente de crack - praticamente todos os usuários - passa a ter necessidade de fumar uma pedra atrás da outra, com intervalos de minutos. Por isso, é muito comum ficarem dias seguidos "virados", só fumando. (Soma-se a isso o fato de a droga eliminar a necessidade de sono e de fome: há relatos de pessoas que ficaram quase vinte dias sem dormir.)

* O crack parece uma droga barata, pois uma pedra custa de R$ 10 a R$ 20. No entanto, como a pessoa precisa fumar grandes quantidades diárias, o prejuízo é tanto que quase sempre ela precisa vender todos os seus pertences para conseguir bancar o vício, muitas vezes partindo em seguida para a criminalidade ou para a prostituição.

* O tratamento mais indicado para o crack atualmente é a internação em uma clínica que contenha acompanhamento médico e psicológico. São necessários ao menos 15 dias de internação para a desintoxicação e um período de ao menos 3 meses até que a pessoa comece a ter condições mais plenas de se conscientizar sobre sua situação. A prática esportiva e o comprometimento com outras atividades são fundamentais para melhorar sua saúde, autoestima, convivência social e bem-estar.

Por hora é isso. Espero que seja útil para vocês repassarem.
Beijos e juízo.

sábado, 3 de agosto de 2013

Álcool: a maior das drogas III

O maior problema do alcoolismo é que todo mundo acha que está livre dele, quando, na verdade, ninguém, potencialmente, está. Quase sempre se imagina que o dependente de álcool seja aquele que abusa por falta de noção ou de caráter, mas em geral esse descontrole ocorre gradativamente, em meio a risadas, amigos, festas e outras situações supostamente alegres. O perigo do álcool não está necessariamente na fossa; está também na comemoração. Especialmente se a comemoração acontece sempre, pelos motivos mais banais, tornando-se rotina. O álcool não serve mais para celebrar; é a celebração que serve como pretexto para o álcool.

“Vamos tomar uma?” é a maior das mentiras. Quem toma uma de fato? O bebedor moderado, ou seja, que se mantém dentro de um limite respeitável para a saúde de seu corpo e mente, bebe no máximo duas latas de cerveja por dia. Mas o hábito de beber todos os dias da semana também pode desencadear uma dependência.

O erro da maioria das pessoas é pensar que não vai cair nessa. Porque o dependente de álcool não acorda um belo dia dependente, como se tivesse adquirido um vírus. A bebida é um vício mascarado, que vai se espalhando pelo corpo, pelas sinapses e pela vida da pessoa de um modo tão sutil que é praticamente imperceptível, geralmente por anos. Tanto que a primeira pessoa a notar o abuso de álcool quase nunca é o próprio dependente, e sim aqueles que estão próximos a ele: companheiro, amigos, familiares. 

E a primeira reação da vítima ao ouvir uma crítica é dizer que o outro é implicante, que só sabe criticar e acusar, que não sabe nada da vida, que é exagerado, que não há nada de mal em “beber uma” de vez em quando. É quando começa a fase 1 da dependência: a negação. O dependente não é capaz de (e não quer) enxergar que está passando dos limites e se irrita quando se toca no assunto, transferindo culpa ou sua responsabilidade para o outro. Ele pode diminuir ou parar quando quiser – só que nunca quer, ou não tem graça fazê-lo. E a pressão dos amigos nos homens ou a necessidade de autoafirmação das mulheres fala mais alto do que a sensatez.

Gabar-se da bebida e das besteiras cometidas, típicas dos adolescentes (que, no Brasil, infelizmente ainda consomem álcool sem nenhum tipo de controle, ampliando ainda mais a possibilidade de dependência química em curto prazo e atrapalhando seu desenvolvimento neural), é um padrão seguido também na idade adulta, comprovando a eficiência do marketing desenfreado da gigante e poderosíssima indústria da bebida no país. 

Como o cigarro no século passado, a imagem de uma cerveja na mão continua sendo associada à masculinidade, a uma falsa segurança, a um pseudossucesso e, principalmente, a uma completamente vazia liberdade, já que quem está no comando é a bebida, e não a pessoa em sua consciência plena. Quem é jovem não costuma medir consequências ou ser capaz de projetar o impacto no longo prazo que o excesso de álcool poderá ter em sua vida e na de seus entes queridos. Infelizmente, na grande maioria dos casos, quando isso acontece – muitas vezes na meia-idade, o estrago já foi feito.

Enquanto a sociedade mantiver a ignorante postura de que uma das drogas mais nocivas – justamente por sua facilidade de obtenção e ocultação de informações pela indústria quanto aos seus efeitos no médio e longo prazo – é apenas sinônimo de festa e alegria inócuas, como se houvesse uma vacina mágica criadora de uma redoma protetora aos usuários, e fingindo não enxergar quantas famílias sofrem com no mínimo uma pessoa vítima de sua dependência (o que afeta diretamente diversas outras pessoas que, como ocorre com qualquer outra droga, sofrem ainda mais os efeitos do distanciamento, da indiferença, da solidão, do descaso, do desespero, da agressão, da pena, da raiva, da decepção e da mágoa relacionados à pessoa que amam, mas com a qual não suportam mais conviver), muitas vidas serão gravemente feridas na sua mais profunda essência, em dez, vinte ou trinta anos, carregando cicatrizes que se perpetuarão como símbolos de angústia por muitas gerações.

Algumas informações importantes:
  • Uma pessoa que tem problemas com álcool (abuso), mas que talvez ainda não tenha chegado à fase de alcoolista, é identificada por pelo menos um dos sintomas a seguir: 1) dificuldade em cumprir suas responsabilidades de trabalho e estudo; 2) beber em situações de risco, como ao dirigir; 3) envolver-se em briga ou agir de maneira violenta; 4) continuar a beber mesmo após identificar problemas de relacionamento; 5) percepção de que deve diminuir a quantidade de bebida; 6) ficar irritado quando alguém toca no assunto; 7) sentir-se mal ou culpado por beber; 8) beber de manhã para se livrar de uma ressaca ou beber sozinho; 9) ter dor de cabeça ou ressaca com frequência (uma vez por mês não é pouco).  
  • Um alcoolista, ou seja, o dependente químico de álcool, é identificado por pelo menos um dos sintomas a seguir: 1) ter compulsão, ou vontade forte de beber; 2) tolerância, ou seja, necessidade de cada vez maior quantidade de bebida para sentir seus efeitos; 3) dificuldade de parar de beber após ter começado; 4) crise de abstinência, ou reações físicas por causa da falta do álcool, especialmente em usuários de longo prazo.
  • Em ambos os casos o álcool tem importância central na vida da pessoa, ou seja, as coisas "só têm graça" se houver bebida envolvida e a maioria de seus passatempos envolve bebida.
·          Males comprovadamente causados pelo mau uso da bebida segundo pesquisas científicas: problemas no sistema imunológico, danos cerebrais, câncer de fígado, esôfago, garganta e laringe, cirrose hepática, depressão (o álcool é uma droga depressora, mesmo que inicialmente cause sintomas de euforia). 

       Causas da dependência: 1) predisposição genética (histórico familiar), que pode ou não ser determinante; 2) ambiente: influência de colegas e hábito frequente de beber na companhia destes; 3) características psicológicas pessoais, como consciência e controle de riscos, cuidados com a saúde e firmeza de atitudes; 4) idade em que se começa a beber ou quantidade de tempo em que se bebe (se prolongada, por exemplo, por anos). 
             
               Em resumo, existem características físicas e psicológicas, mas tanto um fator como outro podem dar o start para o problema com o álcool. NINGUÉM ESTÁ A SALVO DE TER O PROBLEMA, E SOMENTE NO LONGO PRAZO É QUE SE TEM ESSA RESPOSTA, COMO OCORRE COM QUALQUER OUTRA DROGA. POR ISSO, TODA CAUTELA E INFORMAÇÃO É POUCO.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Álcool: a maior das drogas II

Sábado fui parada pela polícia militar para fazer o teste do bafômetro (aliás, quem criou esse nome tem muito mau gosto). Minha irmã, que estava comigo, riu da minha cara (claro!), mas em seguida fez um comentário muito sério e pertinente, do qual tomo a liberdade de me apropriar e lanço aqui: de que adianta o governo realizar ações para inibir se a indústria simultaneamente incentiva e estimula - com muito mais intensidade, força e peso?

Além disso, profissionais de saúde estão constatando que o número de mulheres dependentes tem aumentado significativamente, o que de certa forma mostra que não foi nada absurda a abordagem da polícia - a não ser pelo fato de terem errado feio o alvo!

Mas, falando sério, a situação me fez pensar mais no assunto (que já entrou no meu post anterior) e ter vontade de partilhar os meus conhecimentos sobre o tema, já que pesquisei bastante para escrever o livro sobre drogas e vejo o tempo todo que as pessoas têm muito pouca informação do que de fato o álcool pode fazer na vida de alguém.

Assim, aqui vão algumas infos importantíssimas para repassar ao máximo número de amigos e familiares:

1. O alcoolismo, ou dependência química de álcool, pode ser causado de acordo com a genética, as doses, a frequência e as circunstâncias em que a pessoa bebe.

2. São considerados bebedores moderados aqueles que bebem no máximo 2 drinques por dia (2 latas de cerveja ou 3 copos de chope ou 2 taças de vinho ou 72 ml (menos de 2 doses) de destilados). Porém, a concentração de álcool nas cervejas varia bastante, e é necessário levar isso em consideração, especialmente as com malte. Isso significa que encher a cara "só no fim de semana" é suficiente para aumentar grandemente os riscos da dependência, considerando que o limite máximo semanal para um homem adulto seria de 8 latas de cerveja ou 12 copos de chope ou 8 taças de vinho ou cerca de 7 doses de destilados.

3. Mesmo quem bebe moderadamente não está livre de riscos.

4. Bebendo a mesma quantidade dos homens, nas mulheres o efeito é maior, por causa de sua constituição física e de diferenças na estrutura neurológica.

5. Filhos de dependentes de álcool têm 4x mais chances de se tornar dependentes também.

6. O alcoolismo atinge 10% das pessoas adultas no Brasil.

4. Menos de 2% dos casos tratados em clínicas especializadas não têm recaídas.

No próximo post vou aprofundar o assunto em relação aos males causados pela bebida e as causas da dependência.

Saúde! (Mais ainda se for sem brinde!)

Fontes de consulta:
SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas
CEBRID - Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Álcool: a maior das drogas

Estou para lançar um livro sobre drogas, de modo que já vinha planejando escrever sobre o tema aqui. Porém, ao ler o artigo que Ruy Castro escreveu para a Folha, senti que ele disse muito do que eu gostaria de falar. Assim, decidi reproduzir o texto aqui, dedicando a ele o espaço esta semana, também com um intuito de utilidade pública. Para quem quiser mais informações, indico alguns sites com brilhantes e importantíssimas entrevistas da Marília Gabriela sobre drogas, violência e álcool, ao final. Beijos a todos e muito juízo nas baladas, nos barzinhos, em casa, nas festas...!

RUY CASTRO

Os garotos do Brasil

RIO DE JANEIRO - Sócrates, 57, volta para casa depois de 17 dias entre a vida e a morte no hospital por complicações decorrentes de cirrose do fígado. A partir de agora, não poderá mais beber álcool. 
Mas isso não fará dele um ex-alcoólatra. Assim como o diabético que deixa de comer açúcar não se torna ex-diabético -torna-se apenas um diabético que deixou de comer açúcar-, Sócrates continuará sendo alcoólatra. Apenas terá deixado de beber.


Para a indústria cervejeira, sua doença é um desastre. Demonstra que ninguém, nem mesmo um homem inteligente, cidadão admirado e, ainda por cima, médico, como Sócrates, está a salvo de seu produto. Que este produto não é diferente dos "mais fortes", como os destilados, e que, apesar disso, entra alegremente pelas casas via televisão, patrocinando inclusive a seleção brasileira. Pois não é irônico que Sócrates, que já foi um dos símbolos desta como atleta nos anos 80, quase tenha morrido do produto que patrocina hoje a seleção?


Trinta anos de consumo firme e crescente de cerveja renderam-lhe a cirrose cujos sintomas ele, como médico, deve ter percebido há muito. Sócrates percebeu, mas continuou a beber. Por quê? Porque o alcoolismo é progressivo e, depois de certa etapa, quem manda não é a razão, mas o organismo, e este quer sempre mais. Sócrates pertence aos 15% da humanidade que podem beber muito sem sentir os efeitos adversos do álcool, como embriaguez, intoxicação e ressaca. Só isso explica que, com seu histórico de copo, nunca tenha sido advertido pelos médicos de seus clubes -que também não entendem de alcoolismo. 


Sócrates disse que, se saísse dessa, iria fazer trabalho social junto às crianças da Venezuela. Faria melhor se ficasse aqui e contasse sua história para os garotos do Brasil.



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O exemplo do Rei - Doenças modernas

Eu gosto de Roberto Carlos por influência do meu pai.
Como a maioria das pessoas da minha geração que o admira. Ele tanto era bom tanto no estilo rapaz descolado da Jovem Guarda como o é como homem maduro e sensível. Várias de suas músicas são realmente lindas, e por alguma razão estranha muitas vezes me pego com lágrimas nos olhos ouvindo ele cantar ou escutando algo que ele diz.
Mas este artigo pretende abordar outro aspecto do Rei: em entrevista para o Jô Soares na semana passada, ele abordou (que eu saiba, pela primeira vez) o assunto de suas "manias" como sendo TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). E o fez com uma delicadeza incrível.

A meu ver, o que esse fato teve de especial foi mostrar claramente a mudança de mentalidade das pessoas em decorrência dos avanços científicos da psiquiatria nos últimos 60 anos. Quando Roberto ficou famoso, os rumores sobre as "manias" dele foram tomando espaço como lendas curiosas e ligeiramente engraçadas, mas hoje em dia ele teve acesso à informação, por intermédio do filho, de que o que ele tinha não era superstição, e sim o que se poderia classificar como uma doença, na qual a pessoa tem algumas atitudes aparentemente ilógicas e repetitivas (para resumir ao máximo), como entrar pela mesma porta que saiu, fazer tudo duas vezes, etc.

Eu comentei no artigo anterior que já tive algumas crises de síndrome do pânico. Também já tive depressão. Conheço pessoas, família e amigos, que já tiveram ou têm esses e outros problemas (ou o que se chama de "doenças modernas"). A grande questão é que, antigamente, a pressão para a pessoa ser "perfeita" era imensa, e as falhas deviam ser ocultadas e disfarçadas. Hoje, ainda resta muuuuito desse comportamento, mas aos poucos as pessoas estão percebendo que é muito mais saudável, leve e natural não fazer desses problemas um problema, e sim encarar com tranquilidade, e sem deixar de buscar ajuda, se for o caso.

Ser diferente não é mais ruim. E quando percebemos que somos diferentes, descobrimos que há muitos outros diferentes como nós!

O ritmo de vida que levamos é intenso demais, tanto para adultos como para crianças, de modo que estamos começando, sim, a sofrer algumas consequências da velocidade da Era Tecnológica. Eu tenho uma teoria de que estamos "espremendo" o cérebro de forma desequilibrada neste século XXI, considerando que, antes dos anos 1990, realizávamos tudo manualmente, e, após a chegada dos PCs, passamos a produzir, no mesmo período de tempo (ou em maior), absurdamente muito mais, num ritmo nunca atingido na história da humanidade, provocando no nosso cérebro uma sobrecarga cujas consequências ainda conheceremos nos próximos 50 anos.

Algumas das mais evidentes são essas doenças modernas - TOC, síndrome do pânico, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), depressão, bipolaridade, ansiedade (patológica), até mesmo abuso de álcool e outras drogas, etc. -, que, em muitos casos, são provocadas ou acentuadas pelo desgaste emocional, que inibe a produção de serotonina (a substância neurotransmissora responsável pelo bem-estar), de modo que é necessária a prescrição de um medicamento que estimule o corpo por um tempo a voltar a produzi-la (caso dos antidepressivos e dos ansiolíticos). Estabilizadores de humor também são importantes para as pessoas que, pressionadas, sentem-se mais agressivas e irritadiças.

Por isso, meu conselho é: busque qualidade de vida; valorize as coisas simples; dedique-se às pessoas que são importantes a você; faça pausas no trabalho ao longo do dia; equilibre o esforço mental com esforço físico. E procure um psiquiatra se você sente que as coisas não estão legais - ele nada mais é do que um médico que trabalha com a regularização do funcionamento do seu organismo -, além de um terapeuta recomendado, caso você sinta que seus problemas estão muito pesados e complicados de resolver. E seja feliz! Afinal, hoje em dia até um Rei é considerado igual a você!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O medo

A Loira do Banheiro é um problema.
De todas as escolas que já visitei, com todos os alunos de cada uma que já conversei, a única reclamação que recebi foi de uma mãe, por intermédio da coordenação de uma escola, alguns anos atrás, dizendo que sua filha havia chorado por causa da Loira e que ela não tinha gostado de a pequena ter lido o livro.

Muito chato. Eu mesma nunca queria que algo que eu tivesse escrito passasse alguma sensação ruim a alguma criança, por mais cuidado que eu tenha em adaptar e amenizar as informações mais pesadinhas do folclore. Mas eu me pergunto: como é possível que, entre todas as outras crianças, a Loira seja campeã de popularidade? Com ou sem medo, as crianças são loucas por ela - assim como eu fui quando criança.

Na verdade, eu mesma aproveitei a onda da lenda da Loira do Banheiro para assustar as outras meninas da minha turma. Eu tinha medo de entrar no banheiro, que ficava isoladão no pátio, mas resolvi contornar o medo justamente gritando pras outras meninas que eu tinha visto a Loira. Todas nós saímos correndo e rindo, é claro. Coisa de criança. Mas acho interessante, sim, refletir sobre a questão do medo.

No meu ponto de vista, um pouquinho de medo é saudável. O medo tem a função de alerta, cuidado. O meu primeiro livro preferido, como costumo dizer, foi "Os fantasmas da casa mal-assombrada", de Carlos de Marigny. Depois li mais algumas coisas do gênero e cheguei a Edgar Allan Poe. Aí vi que peguei pesado e acabei deixando de lado e mudando o foco rs Mas é natural a fase de curiosidade com os temas de fantasmas, monstros, bruxas, aliens. Na adolescência, então, é o auge - o que explica o sucesso de bilheteria no cinema com filmes trash de terror.

A questão é que, quando o medo ultrapassa o nível de "normalidade", tornando-se um problema para a criança, é importante conversar e tratar disso com tranquilidade. Um livro pode ser um instrumento fantástico para a mãe ou o pai trabalharem as emoções da criança. Há várias publicações no mercado que tratam do tema para crianças. Uma delas, "Quem tem medo de escuro?", da Caramelo, eu mesma traduzi, e é de uma sensibilidade incrível, e há também o "Estou com medo" da mesma editora. Os dois estão fora de catálogo, mas podem ser encontrados em sebos e no site Estante Virtual. A Scipione também tem uma coleção chamada "Quem tem medo", com vários temas, assim como outras editoras. Caso o medo intenso persista, talvez seja o caso de buscar uma terapia, pois ele pode ser o reflexo de algum outro tipo de problema que esteja provocando essa insegurança.

A orientação que eu sigo, como escritora, é ter uma base média: usar o bom senso para não tornar as histórias assustadoras demais nem bobinhas. Se apenas uma ou outra criança se sente desconfortável, trata-se da sensibilidade específica dessas crianças, e isso certamente não acontecerá apenas com uma história, mas se refletirá em diversos outros contextos. Daí a importância de cuidar disso.

Eu mesma sou um ótimo exemplo de medrosa. Eu colecionava e lia tanta coisa sobre extraterrestres na minha infância que comecei, durante uma época, a ficar com medo de madrugada, e tinha pesadelos recorrentes com o tema. Na fase adulta, tive alguns períodos de síndrome do pânico, embora, pelas informações que tenho, eu acredite que se trate muito mais de um desgaste físico causado por excesso de ansiedade e preocupação do que por medo em si. Mas não deixa de ser um sintoma relacionado. Nós, adultos, temos muitos medos, e mais graves do que o das crianças - não na intensidade, mas na realidade. O medo do afastamento das pessoas queridas é maior de todos na grande maioria dos casos.

O importante, para lidar com o medo, no caso de qualquer um - adulto, criança, idoso -, é cuidar-se, informar-se, e combatê-lo com perspectivas positivas da realidade, porque, em geral, o medo é fruto de uma visão puramente negativa dos fatos. Não estou fazendo autoajuda barata rs Eu realmente me informo e procuro entender bastante a área de estudos psicológicos para fazer um trabalho responsável como escritora e educadora, na medida que as duas coisas se misturam. Por isso, meu conselho aos pais é sempre conversar, utilizando essa abordagem. A criança tem medos próprios da idade: de largar a chupeta, do escuro, da escola, etc. Mas, com suporte e amor, ela os enfrentará normalmente, como qualquer outra criança, e se tornará uma pessoinha mais fortalecida em seu desenvolvimento.